RACISMO: Os Sindicatos devem atuar como agentes de combate

“Uma série de protestos, que têm como bandeira principal o movimento “Black lives matter” (Vidas negras importam), eclodiu nos Estados Unidos, com repercussão em todos os cantos do mundo em razão do brutal assassinato de George Floyd, um homem negro morto asfixiado por um policial branco.

No Brasil o caso ganha ainda mais notoriedade, pois se soma ao recente caso do menino João Pedro, também negro, morto a tiros em operação das forças de segurança no Rio de Janeiro, e traz à tona, mais uma vez, o debate sobre o racismo estrutural que domina e molda as relações sociais, com consequências devastadoras para todos nós.

Os casos citados, que refletem a desigualdade, a indiferença e o racismo predominante em todas as sociedades, nos faz questionar qual é o papel do movimento sindical na luta antirracista e na busca por justiça e igualdade social. É um fato que a violência, principalmente a policial/estatal, é a face mais perversa e agressiva do racismo, mas não é a única. O racismo também tem reflexos, principalmente, nas relações de trabalho, que é onde se insere o papel dos sindicatos.

Se olharmos para o mercado de trabalho brasileiro, com dados do IBGE em 2019, vamos descobrir que a diferença entre a renda média geral dos brancos e a renda média geral dos negros é de 73,9%, que os negros com a mesma formação ainda recebem 31% menos que os brancos e que o número de negros em situação de subutilização é mais que o dobro do número de brancos. Os dados são ainda mais graves quando considerada também a questão de gênero, pois um homem branco ganha, em média, 2,25 vezes o que recebe uma mulher negra. Todas essas informações não são dados isolados, são parte de um conjunto de formação da nossa identidade social, que foi toda construída com base na segregação e na discriminação racial.

Não é admissível que a cor da pela seja o critério determinante para definir quem merece a vaga de emprego, quem ocupará os melhores cargos ou quem deverá ter o melhor salário. É necessário debatermos e construirmos, o mais rápido possível, soluções de enfrentamento a essa brutal realidade, que aflige cerca de 55,8% da população brasileira. O primeiro passo para isso é admitirmos que, por conta do seu enraizamento cultural profundo, nós fazemos parte de um sistema racista, reconhecendo que fomos moldados em uma estrutura que incentiva a desigualdade e a segregação.

O segundo passo é manter sempre em destaque o debate sobre a questão racial e a luta antirracista, afinal o silêncio sobre essas questões, principalmente pela sociedade civil organizada e pelos movimentos sindicais, nos fará cúmplice da manutenção do racismo e da desigualdade.

Mas o passo fundamental é lutar. Sim, lutar e mostrar toda nossa indignação com essa realidade, mostrar que nos importamos com cada vida perdida, com cada ato de violência cometido, com cada oportunidade negada e com cada ato de racismo e intolerância praticado. As manifestações que vêm ocorrendo, principalmente nos EUA, são um exemplo de como essa luta deve ser promovida, com união de todos, pretos, pardos, brancos, amarelos e indígenas, para tentar transformar um passado e um presente de culpa em um futuro mais justo, igual e solidário.”

Max Célio de Carvalho – presidente do Sindimetal-ES

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