DA LIGA DA MARIA À BOCA DE FORNO

CRIAÇÃO DA COFAVI E ORGANIZAÇÃO DA CATEGORIA

A Cofavi – Companhia Ferro e Aço de Vitória – foi criada em 1942, no início do processo de industrialização do Espírito Santo, pela família Oliveira Santos, dona de um grande grupo exportador de café, que levava este nome. Seu alto-forno começou a operar em 1945. A sede da empresa sempre se situou no município de Cariacica e a produção se concentrou inicialmente no ferro gusa.A relação da empresa com os funcionários era de cunho paternalista e concentrava famílias inteiras (homens, mulheres e crianças). Os primeiros funcionários vieram, em sua maioria, do interior do estada, deixando a lavoura por influência de conhecidos ou parentes, que já trabalhavam na empresa. Muitos destes, depois, retornavam para seus municípios de origem, por não se adaptarem à condição operária, ou devido também às precárias condições de trabalho.A urbanização era incipiente e a empresa foi obrigada a arcar com uma série de serviços que não estavam disponíveis no mercado. Possuía 45% do seu pessoal no setor administrativo e serviços auxiliares (carpintaria, construção civil) além de 55% do pessoal na operação, enquanto nas outras usinas, 25% eram profissionais de administração e 75%, de operação. Um outro aspecto era a carência de pessoal especializado, necessário ao processo de expansão da empresa, o que fez com que maior parte dos técnicos fosse trazidos de outras siderúrgicas, com CNM, Usiminas e Acesita. Muitos desses passaram a treinar a mão-de-obra local e a empresa foi obrigada a montar um complexo sistema de treinamento. A Cofavi para atrair estes técnicos, teve que oferecer uma série de vantagens: transporte, alimentação, habitação e salários compensadores.Os empregados solteiros inicialmente iam morar no alojamento da empresa, que era uma espécie de “república”, onde ficavam de três a cinco rapazes por cômodo. Já os casados moravam em casas alugadas ou de sua propriedade. A Cofavi construiu na Avenida Ferro e Aço, próxima à empresa, 21 casas de alvenaria para seus operários especializados.As condições de trabalho eram as mais precárias (exposição a calor e gases), com a longa jornada de trabalho (os turnos eram de doze horas, sem descanso), além de não usarem nenhum equipamento de proteção. O ferro gusa era quebrado com marretas e transportado em carroças pelas crianças. Os operários usavam um sapato grosso de pau e lenço no rosto para se protegerem dos gases que saíam do forno.

Funcionários antigos relatam um episódio que ilustra bem esta realidade. Contam que dois funcionários morreram ao tentar limpar o forno, caindo em seu interior devido às tonteiras provocadas pelos gases.O grupo fundador da Cofavi, possuía pouco conhecimento sobre siderurgia. Com as crescentes dificuldades financeiras da empresa, o grupo passou a recorrer constantemente à busca de aportes financeiros do Estado através do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), fazendo com que a empresa se tornasse, lentamente, propriedade deste banco.

TRABALHADORES SE ORGANIZANDO

Em 1956, iniciou-se a implantação do Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek, visando acelerar o processo de industrialização do país, com seu programa “cinqüenta anos em cinco”. Este plano visava, entre outros objetivos, elevar a produção siderúrgica do país, de 1.150.000 para 2.300.000 toneladas/ano. Dentro deste plano, alguns projetos foram implementados no Espírito Santo. Um deles foi o plano de expansão da Cofavi, aprovado em 1959, pelo Governo Federal.

Naquele período, iniciou-se o organização dos trabalhadores da Cofavi. Tudo começou com um pequeno grupo de operários da empresa, que passou a se reunir à noite na porta da fábrica, no final do expediente. Discutia-se a necessidade da criação de um sindicato, devido às precárias condições de trabalho e aos baixos salários. O Sr. Antônio Seibert, o mais atuante do grupo, passou a estudar a Constituição Federal, que lhe foi presenteada por um amigo advogado, para orientar os colegas sobre seus direitos trabalhistas. Com isso o número de pessoas foi aumentado e logo surgiu a necessidade de se reunirem em local fixo. As reuniões passaram a ser realizadas na casa do Sr. Antônio Seibert, que morava na Avenida Ferro e Aço. Dona Maria, esposa do Sr. Antônio Seibert, auxiliava em tudo nas reuniões, passando então o grupo a ficar conhecido como “Liga da Maria”.

Logo que se tornaram numerosos e constantes, passaram ao processo de criação da associação, fundada dia 31 de julho de 1958, sob a denominação de Associação Profissional dos Trabalhadores da Indústria Metalúrgica no Estado do Espírito Santo. O primeiro presidente foi Antônio Seibert e a entidade contou inicialmente com 71 associados.A primeira luta da associação foi a construção de sua sede própria. O terreno foi doado pela Cofavi, em Jardim América, na avenida Espírito Santo. A sede foi construída com o dinheiro do time de futebol dos operários da siderúrgica, cuja renda era revertida para a compra de material de construção, até que se concluísse a obra. A diretoria da associação era muito atuante e se articulava com outras entidades sindicais do Estado. Realizavam constantemente reuniões, com a participação também de sindicalistas de outras categorias.

Há registro de uma reunião na “Liga da Maria”, à qual compareceu uma “grande caravana de dirigentes de Vitória, que foi discutir a realização do 2º Congresso Estadual dos Trabalhadores – Conclave”.A primeira assembléia dos metalúrgicos que se tem registro ocorreu no dia 15 de maio de 1960, com a participação expressiva dos associados. O objetivo era a discussão do 2º Conclave do Estado e a eleição dos 10 delegados representantes da categoria.

O congresso foi realizado nos dias 4 e 5 de junho, na sede do sindicato dos arrumadores. Participaram 20 sindicatos e cinco associações profissionais do estado. O evento tinha por objetivo eleger os delegados capixabas para o 2º Congresso Nacional dos Trabalhadores, e traçar um programa de reivindicações e lutas para o movimento sindical do estado. Dos pontos principais deste programa constavam lutas por melhores condições de vida para a classe operária, desenvolvimento industrial do estado, reforma agrária e defesa da escola pública.Em 1960, o Sr. Antônio Seibert se afastou da presidência da associação, alegando problemas pessoais, tais como sua avançada idade e o elevado número de filhos que tinha para criar. Na realidade, o Sr. Antônio sofria inúmeras pressões da chefia da empresa, devido às lutas que desenvolvia na Cofavi. Assumiu o então primeiro secretário, Cícero Nascimento, que permaneceu no cargo até o final de 1960, quando então foram realizadas novas eleições, sendo eleito para a presidência da associação o Sr. Benevenuto Pereira das Neves.

Em 19/11/60, em ofício encaminhado à DRT, Cícero Nascimento assumiu a presidência, em virtude de ter o Sr. Benevenuto Pereira das Neves mudado de profissão. Assim sendo, os associados, em reunião realizada na associação, preencheram a vaga existente. Cícero, ao assumir a presidência da associação, adotou a política da “boa vizinhança” com a diretoria da empresa. Por sua vez, a direção da Cofavi o achava tolerável para exercer tal função. Sempre o chamava para as negociações salariais e para acompanhar todos os processos de demissões de funcionários. A Cofavi, naquela época, adotava a política de demitir quem estava para adquirir estabilidade, pagando-lhes todos os direitos trabalhistas. Sendo bom empregado, após alguns meses, poderia ser recontratado.

PRIMEIRA ELEIÇÃO

A criação da primeira Cipa na Cofavi e o processo de transformação da associação em sindicato, que contou com o apoio do sindicato dos metalúrgicos do Rio de Janeiro, aconteceram na gestão de Cícero Nascimento. Em 04 de Julho de 1962, a associação conhecida como Associação Profissional dos Trabalhadores na Indústria Metalúrgica do ES, foi reconhecida na DRT sob a denominação de Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Cariacica, representando a categoria profissional de trabalhadores metalúrgicos (siderurgia e fundição), com base e sede em Cariacica. A intenção da diretoria da associação era criar o sindicato com base territorial em todo o estado. Entretanto, isso não foi permitido, pois, naquela época, foi alegado que só havia siderúrgica no município de Cariacica. A carta de reconhecimento do sindicato foi assinada pelo ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, Hermes Lima, no RJ, em 23/08/62, e entregue a Cícero Nascimento.

Em 14/10/62, Cícero convocou assembléia geral com os funcionários da Cofavi, para prestar contas do período de funcionamento da associação, formação de uma junta governativa para regularizar o pleito eleitoral e anistiar todos os associados em atraso com as mensalidades. Foi solicitada por 23 associados, nesta assembléia, uma junta governativa, por três meses, para apurar corrupção no período de Cícero Nascimento (1ª Ata de assembléia registrada em livro). A junta regularizou a situação ilegal em que encontrava a entidade e promoveu eleições para sua diretoria. Cícero foi chamado a comparecer à Delegacia Regional do Trabalho para entregar à junta todos os documentos pertencentes ao sindicato, sendo obrigado a fazê-lo.

A primeira eleição para diretoria do sindicato foi realizada no dia 27 de fevereiro de 1963, com a presença de 42 associados. Havia 51 associados em condições de votar. Em chapa única, recebendo todos os votos dos associados, Lauro Pereira Guimarães foi eleito presidente do sindicato. Esta chapa era formada, em sua maioria, por operários provenientes de outros estados e havia uma certa influência do Partido Comunista Brasileiro entre seus membros. É importante ressaltar que, naquela época, ocorria uma nítida separação entre os funcionários mais antigos e oriundos daqui do estado, e os ditos “de fora”, de outros estados, mão-de-obra mais qualificada que os primeiros. Por este fato é que Cícero não concorreu às eleições do sindicato. Os funcionários antigos procuravam convencê-lo a disputar o pleito, mas ele não concordou, porque achava que boa parte dos operários já estava sob influência deste grupo.

Na assembléia de 20/04/63, sob a presidência de Lauro Pereira Guimarães, discutiu-se a crise em que se encontravam os trabalhadores da Cofavi, em função do aumento salarial a ser dado pela companhia. Em outra, realizada a 18/07/63, o presidente Lauro propôs a expansão da base territorial do sindicato para todo o estado (como era no período da Associação), passando a ter o nome de Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Metalúrgica do Espírito Santo. Esta proposta foi aprovada, mas não concretizada, devido às intervenções futuras.Em outubro de 1963, a etapa de expansão da Cofavi foi inaugurada, com um efetivo de cerca de 1.000 funcionários e capacidade de 130 mil toneladas por ano. Naquele ano, o BNDE já era o principal acionista, possuindo 95% das ações da siderúrgica. Mas a diretoria da emprese foi mantida, sendo a mesma do período anterior à estabilização. Com início do regime militar, em 1964, algumas alterações se processaram na empresa. A segunda fase do plano de expansão, que previa sua integração a Tubarão, foi mantida por um período, após o golpe, mas ocorreram constantes atritos entre esta e alguns militares colocados em postos de direção, culminando com a saída do presidente hélio Jaguaribe e sua substituição por uma diretoria militar.Em maio de 1964, foi criada a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Companhia Ferro e Aço de Vitória Ltda – COCEPA, com finalidade de buscar diminuir os custos sobre os gêneros de primeira necessidade. Inicialmente, contou com 400 associados.

INTERVENÇÃO NO SINDICATO

A primeira intervenção no sindicato dos metalúrgicos se deu no dia 29 de junho de 1964. Seus diretores, Alberto Calazans e Gil Gama, que se encontravam naquele momento em assembléia na sede, foram presos pela Polícia Federal, sob a alegação de que eram subversivos, sendo postos em liberdade alguns dias após, por falta de provas. O sindicato foi todo vasculhado. Procuravam documentos comprometedores. Era a repressão militar que se abatia sobre o movimento sindical brasileiro. Naquele mesmo dia, tomou posse a primeira junta interventora, denominada junta governátiva, no grupo escolar primário da Cofavi, em Jardim América.

Estavam presentes o representante do Ministério do Trabalho, o inspetor Regional Dr. Aderaldo de Mello Pedrosa, Lauro Pereira Guimarães, presidente da diretoria destituída, juntamente com Gil Gama e Alfredo Calazans. A junta governativa era composta pelos Senhores Rubens Peixoto de Oliveira, João Felipe Abdenor e Jair Bicas, respectivamente, presidente, secretário e tesoureiro, designados pela portaria nº 40 de 13/06/64. Todo o acervo mobiliário, como documentos e valores quaisquer pertencentes ao sindicato, serão entregues à junta pelos membros que se afastarão impreterivelmente, até às 12 horas do dia 14/08/64. Esta ata foi lavrada pelo secretário da junta, e a assinam os seus membros e da diretoria destituída. Em 19/11/64, a junta realizou assembléia, com 94 associados. O presidente falou das transformações sindicais ocorridas no país, quando as assembléias já não dispunham de autonomia.

RESTITUIÇÃO DA DIRETORIA

Em janeiro de 1965, a segunda junta governativa tomou posse na escola primária da Covafi, com a presença dos membros da primeira junta. Os Srs. Ary Ferreira Chagas, Eurico Calimam Filho e Hugo Cordeiro de Farias, respectivamente, foram nomeados, presidente, secretário e tesoureiro da segunda junta, designada pela portaria nº 68/64 de 30/12/64. Naquele mesmo mês, foram realizadas eleições para a diretoria, da COCEFA, a cooperativa dos empregados, quando concorreram quatro chapas.

Recebendo mais de 50% dos votos válidos, saiu vitoriosa a chapa que tinha como membros os diretores destituídos do sindicato. este credibilidade e o reconhecimento aos diretores destituídos retratou a credibilidade e o reconhecimento aos diretores do sindicato, afastados de suas atribuições pela repressão.

Em 9 de março de 1965, o ministro, em despacho resolveu suspender a intervenção e determinou a volta da ex-diretoria. Designou uma junta governativa, composta pelos Srs. Jonas Nunes dos Santos Filho, João Romeu Pauli e Levens Gothardo, para, sob a presidência do primeiro, providenciarem, no prazo de 90 dias, as eleições para o preenchimento de cargos da diretoria e Conselho Fiscal. Em reunião realizada na escola primária da COFAVI, no dia 28 daquele mês com a participação de vários associados, do Delegado Regional do Trabalho, Joildo da Penha, e do inspetor do Ministério do Trabalho, Aderaldo de Mello Pedrosa, foi restituída a diretoria eleita e o Sr. Lauro P. Guimarães recuperou o seu mandato. O Sr. Ary Ferreira Chagas leu a portaria nº 223/103/64, que restituiu a diretoria, destituída por mandato presidencial, fazendo a entrega da direção aos seus eleitos. Na ocasião Guimarães discursou “agradecendo ao companheiro Ary, pela maneira tão delicada pela qual serviu, sempre honestamente, ao nosso sindicato”.

O SINDICATO ENTRA EM FASE ASSISTENCIALISTA

Nas eleições de 15 de outubro de 1973, concorreram duas chapas. Uma encabeçada por Valmir Ignácio Rocha, que havia sido presidente interino no sindicato, e a outra, encabeçada por Carlos Alberto Muniz Valente era associado, mas nunca havia participado do movimento e da vida do sindicato. Ele iniciou como metalúrgico em 1962, quando entrou na Cofavi, através de concurso. Tomou posse em assembléia, com a presença de 44 associados. Recebeu o sindicato sem dinheiro em caixa e com uma dívida de três meses do seguro de vida dos funcionários da Cofavi. A empresa repassava recursos para que a entidade efetuasse o pagamento à seguradora. Nos seus primeiros meses de gestão, Valente reestruturou o sindicato. Comprou o terreno da futura sede, em Jardim América. Como gozava de boa relação com a direção da Cofavi, o dinheiro utilizado para a compra dou conseguido através de uma acordo com a empresa, que antecipou o repasse das mensalidades dos trabalhadores. Naquele período, tramitava na Justiça um processo pelo pagamento de insalubridade dos operários da Cofavi. Valente, novamente através de acordo com a empresa, solucionou o processo. Em troca, os beneficiados doaram 10% do valor para a construção da sede.

Em assembléia realizada em abril de 1974, a base territorial do sindicato foi estendida a todos os municípios onde havia indústrias metalúrgicas, mecânicas e de material elétrico. Ou seja, foi ampliada para Vitória, Vila Velha, Serra, Anchieta, Guarapari e Ibiraçu. A sede e foro continuaram em Cariacica. Das assembléias durante este mandato de Valente, há registro de quatro em que não houve comparecimento de associados em primeira convocação. Foi preciso fazer segunda convocação, quando compareceram, em média, 35 associados (Atas de assembléia dos dias 26/04/74, 18/06/74 e 07/10/74).

NASCE O BOCA DE FORNO

Em outubro de 1982, houve novas eleições no sindicato, com três chapas concorrentes. Luiz Carlos Rangel (Samarco), com o apoio do PCB – Rangel era membro da direção estadual – e de Bento Cristo, encabeçava a chapa 1; Muniz Valente encabeçava a chapa 2; e a oposição; com Edenôncio Valério Brandão, da Samarco, representava a chapa 3. O maior colégio eleitoral era a Cofavi e Rangel venceu as eleições.

Em maio de 1985, foi publicado o edital da eleição realizada em 16/09/85, quando concorreram quatro chapas. A diretoria do sindicato nomeou todos os presidentes e mesários das eleições, rejeitando a proposta das outras chapas na escolha dos mesários, como ocorria em sindicatos democráticos. Todas as chapas elaboraram plataformas com reivindicações salariais e assistenciais. Algumas das propostas eram comuns às quatro chapas, como a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, trimestralidade e índice de produtividade. A chapa 1 pretendia tornar a entidade “um sindicato realmente assistencialista”, com proposta de ampliar o setor médico – odontológico, criar cooperativa de consumo, construir colônia de férias, etc. A chapa 2 também propunha ampliação da assistência aos associados. A chapa 3 defendia assembléias unitárias da categoria, presença do sindicato nas portas das fábricas, aumento real de salário, unificação da data-base do reajuste salarial. A chapa 4 tinha em seu programa a luta por melhores condições de trabalho, transporte e alimentação, além da criação das subsedes da entidade em Carapina, João Neiva, Ubu e Anchieta. As chapas 2, 3 e 4 temiam a utilização da máquina do sindicato pela chapa 1.Nesta eleição, houve 12 mesas coletoras, sendo 5 itinerentes. Ela foi anulada pelo presidente da mesa apuradora, Francisco Renato Andrada da Silva, pois o quórum não foi obtido. Votaram 2.371 metalúrgicos. O colégio eleitoral era de 3.577 votantes. As urnas foram levadas para o quartel da Polícia Militar, em Maruípe.

No dia 17/09, na primeira tentativa de apuração, as urnas não foram abertas porque o presidente da mesa apuradora, Alcides Rodrigues dos Santos, não aceitou a lista de votantes fornecida pelo sindicato.No dia 20/09, os candidatos a presidente das quatro chapas que participaram das eleições se reuniram e decidiram solicitar à DRT a abertura das urnas. As chapas 2, 3 e 4 apontaram várias irregularidades ao presidente da mesa apuradora. Em 23/09, o lider da chapa 3 Luiz Carlos dos Santos Abreu , entrou com um requerimento na DRT pedindo recontagem de votos para verificação de quórum e apuração em separado, além de investigação das infrações ocorridas. De acordo com a edição do Jornal BOCA DA FORNO nº 12 de 1985, foram contados os votos de metalúrgicos não-sindicalizados no prazo exigido pela legislação, 34 pessoas votaram 2 vezes, sem contar com os falecidos que constavam na lista de votantes.

Assim, verificou-se que o quórum não havia sido atingido. As eleições foram anuladas e os votos incinerados na sede do sindicato, em 23/09. Novas eleições foram marcadas para o dia 02/10/85, conforme publicado em A Gazeta, de 24/09/85.Em 02/10/85, a chapa 4 se retirou do pleito, cedendo às pressões que recebeu das chefias nas empresas. A chapa 3 lutou para que as eleições fossem realizadas no dia 30 de setembro, mas o presidente do sindicato, Rangel, fez requerimento à DRT, solicitando para o dia 02 de outubro o segundo escrutínio. Em panfleto de 1985, o BOCA DE FORNO acusou a chapa 1 de, sob o pretexto de fazer sindicalização, estar, na realidade, fazendo campanha dentro das empresas. Vários panfletos da chapa 1 foram distribuídos, atacando sempre a chapa 3.

Em um deles, acusam Abreu de ser acionista da Cofavi, com direito a voz e votos nas reuniões da empresa, chamando a chapa 3 de “Chapa dos desesperados”. O jornal BOCA DE FORNO esclareceu dizendo: “No período em que a Cofavi queria que todos os operários comprassem ações, Abreu e mais 200 pessoas compraram as ações, mas não tem direito a voto”. Abreu se justificou dizendo que esta era a maneira de saber das “malandragens” dos patrões e que os trabalhadores deveriam ser donos de tudo aquilo que produzem.Finalmente, em outubro de 1985, as eleições foram realizadas, saindo vitoriosa a chapa 1, que reconduziu Rangel à Presidência do sindicato. Em dezembro, três diretores da entidade participaram, em Santos-SP, do 1º Encontro Nacional dos Trabalhadores das Siderúrgicas Estatais.

O SINDICALISMO COMBATIVO CHEGA AOS METALÚRGICOS

A oposição Sindical Boca de Forno assumiu o sindicato e encontrou uma dívida enorme, salário dos funcionários atrasados, ambulâncias sem pneus, equipamentos de escritório danificado e, para completar este quadro caótico, os funcionários do sindicato iniciaram uma greve. O primeiro ano de mandato foi muito difícil. Era um desafio para a diretoria, principalmente considerando que eram poucos os diretores com experiência na condução de um sindicato daquele porte. A primeira assembléia realizada na nova gestão contou com a participação de 130 trabalhadores. Foram discutidos e aprovados os termos do acordo coletivo e autorizada a diretoria a firmar acordo com o sindicato patronal. Isto, após seis dias de greve nas empresas privadas.

Na segunda assembléia, com os operários da CST, discutiu-se a decretação da greve por tempo indeterminado, devido ao não pagamento integral de reajuste estabelecido pelo Tribunal Regional do Trabalho. Dela participaram mais de quatro mil trabalhadores. Na assembléia do dia 26 de novembro de 1988, foi discutida a extensão da data base territorial do sindicato para todo o estado e alterações no estatuto para esta finalidade, com a aprovação dos 92 presentes. Finalmente em janeiro de 1989, concretizou-se esta conquista, alterando a denominação da entidade para Sindicato dos trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico no estado do Espírito Santo – SINDIMETAL, conforme processo nº 24.200.00092/89 da DRT. Em dezembro de 1988, houve varias assembléias da categoria por empresa, para discutir a condução da greve. Em fevereiro de 1989, outra assembléia importante foi promovida, discutindo a participação na greve geral contra o Plano Cruzado Novo. Foram eleitos também os delegados para o 1º Congresso Nacional dos Metalúrgicos da CUT.

MAIS ORGANIZAÇÃO NAS ASSEMBLEIAS

Logo que assumiu o sindicato, a nova diretoria fazia assembléias todas as semanas, com participação expressiva da categoria, chegando a ter mais de 4.000 presentes. Estas assembléias eram conduzidas de forma democrática, com o microfone sendo aberto para qualquer participante se manifestar. Todos falavam o que queria, e, muitas vezes, o assunto em pauta não chegava a ser totalmente debatido. A diretoria após uma avaliação, concluiu que as assembléias, por serem um instrumento de decisão, não poderiam ser desgastadas. A partir daí, passaram a ser realizadas com mais critérios e objetividade. No período das campanhas salariais, eram mais freqüentes. A diretoria do sindicato iniciava o processo de preparação das campanhas com seis meses de antecedência, elaborando a estratégia, as comissões de negociação, etc.

No início de 1989, o jornal Boca de Forno, agora como órgão informativo da entidade, com articulação mensal e tamanho tabloide. O jornal está aberto a toda a categoria, para que todos possam se expressar através de matéria escrita, sugestões, críticas, denúncias, etc. O objetivo é que o mesmo “reflita os anseios da categoria e para isso é indispensável a colaboração de todos”. Através de sua coluna “Por dentro das fábricas”, os operários são informados do que está acontecendo nas fábricas de todo o estado. O jornal também publica notícias sobre o sindicalismo nacional, sobre conjuntura nacional, local e as ações e lutas da sociedade civil organizada. Analisando-se o seu conteúdo, percebe-se que a diretoria sempre teve a preocupação de contribuir para a superação do corporativismo sindical, tão presente no Brasil, na medida em que convoca a categoria para refletir e participar das lutas gerais da sociedade brasileira, como o processo de privatização das estatais do país, posto em prática pelo governo neoliberal, e a luta contra a poluição ambiental. Aos poucos, a diretoria imprimiu a marca do novo sindicalismo, combativo e democrático, que está presente nas portas das fábricas e no cotidiano do trabalhador. As decisões passaram a ser tomadas coletivamente e o sindicato se tornou, de fato, instrumento de luta da categoria e também da sociedade.

O Sindimetal em 1989 ampliou a sua ação e luta. Foi um ano marcado por muito dinamismo, o sindicato integrou a Plenária Pró-Participação popular na Constituinte Estadual, ao lado de outras organizações e entidades da sociedade civil. A plenária tinha como finalidade influir no conteúdo da nova Constituição do estado, através da mobilização da sociedade e da elaboração de emendas populares ao texto Constitucional. Esta participação foi fundamental para imprimir um caráter pais democrático à nossa Carta Magna. Estiveram presentes na comemoração do “1º de Maio de Protesto”, realizado em Vitória e contando com a CUT, outros sindicatos e o movimento popular. Na eleição da CIPA, da CST, o Sindimetal apoiou a chapa 1 – Segurança pela Base – que saiu vitoriosa, com 70% dos votos. Estimulou e apoiou a criação da Associação das Mulheres dos Trabalhadores Metalúrgicos. Também iniciou intercâmbio sindical com outros países, visando à troca de experiência. Recebeu a visita de sindicalistas sul-africanos e alemães. Esteve à frente da primeira greve realizada na empresa Metalosa de Colatina, onde a paralisação foi total. Entrou na Justiça e conseguiu a reintegração de um cipeiro da Usiminas, demitido ilegalmente. Levou para a categoria a discussão das centrais sindicais, etc. A diretoria do Sindimetal, visando uma maior eficiência, investiu na reestruturação administrativa do sindicato, equipando-o com instrumentos modernos, como a off-set.

Além disso, realizou treinamento de pessoal, através do seminário de Administração Sindical, que contribuiu na capacitação do mesmo para dirigir a entidade. Realizou também, entre a categoria, um concurso para escolha do logotipo do sindicato. Muitas propostas foram enviadas, saindo vitoriosa a de Renato de Siqueira, da CST. Dando prosseguimento a sua linha sindical, discutiu, em uma ampla assembléia a filiação do Sindimetal a CUT. A proposta foi aprovada pela maioria. O Sindimetal também participou da Plenária Nacional do Metalúrgicos, promovida pelo Departamento Nacional do Metalúrgicos da CUT, em Vitória, com a participação de mais de 400 delegados de todo o país. No início de 1990, integrou o Fórum Municipal de Entidade, órgão da Constituinte Municipal, através do qual a sociedade encaminhou suas propostas para a Lei Orgânica do município. O sindicato elaborou, com outras entidades, a emenda popular de saúde do trabalhador. A Constituição de Vitória foi considerada, como uma das mais democráticas e modernas do país. Para isso, foi fundamental a mobilização e participação da sociedade. Por outro lado, Rangel criou, em 1º de junho de 1989, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Siderúrgicas, Beneficiamento e Transformação do Estado do Espírito Santo. Ou seja, referente à mesma categoria e base territorial do Sindimetal.

O Sindimetal recorreu na Justiça pedindo impugnação do registro, mas o processo ainda não foi concluído. Em junho de 1991, Rangel também criou a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Siderúrgicas, Metalúrgicas, Mecânicas e Material Elétrico e Outros do E.S. Uma federação onde existe legalmente um sindicato. A diretoria do Sindimetal seguiu imprimindo a sua marca no movimento sindical, dinamismo e combatividade sempre presente nas lutas dos trabalhadores e participando da direção estadual da CUT. Ao final de seu mandato, a diretoria alterou, na íntegra, o estatuto. A alteração foi aprovada em assembléia. Foi uma mudança drástica, fizemos o estatuto dentro de uma linha democrática, atesta o presidente do Sindimetal, Tarciso Vargas.

OPOSIÇÃO OU ASSISTÊNCIALISMO?

No ano de 1991, nos dias 18,19 e 20 de setembro, foram promovidas novas eleições sindicais. A chapa 1, ou Boca de Forno, apoiada pela CUT e com Tarciso Vargas na presidência realizou um seminário para avaliar a gestão do sindicato e estabelecer critérios para a formação da chapa. Promoveu também uma Convenção em Carapina, Serra, com ampla participação, na qual se aprovou a composição da chapa por maioria absoluta. A chapa 2 foi registrada com o nome de “Oposição Sindical Metalúrgica” e contou com o apoio da Força Sindical. Lino Resende de Oliveira, da Cofavi, encabeçava a chapa, com o apoio de Luiz Carlos F. Rangel, e defendia o retorno do assistencialismo no sindicato. Ao término das eleições, foram dados à chapa 1, 4.465 votos. A chapa 2 teve 547 votos. O número total de eleitores era de 5.057. O resultado das eleições foi a demonstração do reconhecimento da categoria pelo trabalho que o grupo Boca de Forno vem desempenhando na entidade e no movimento sindical. A diretoria foi empossada em novembro de 1991 e o Boca de Forno tem pela frente o desafio de aprofundar a qualificar esta experiência.

NASCE A OPOSIÇÃO SINDICAL NO ESPÍRITO SANTO

No Espírito Santo a organização das oposições sindicais se iniciou em 1978, a partir do trabalho desenvolvido pela Pastoral Operária e Caritas, com os grupos de trabalhadores nos bairros. Após contatos com a oposição metalúrgica de São Paulo, a Fase(Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), uma entidade de assessoria a movimentos sindicais e populares, propôs à Pastoral Operária promoverem, conjuntamente, um seminário para avaliar o movimento sindical no estado e sua relação com o movimento nacional. Deste seminário ( 7e 8/09/78) participaram 34 trabalhadores rurais e sete operários metalúrgicos. Também dois operários da oposição sindical metalúrgica de São Paulo compareceram. Neste evento, foi constatado o desconhecimento sobre a importância da entidade na organização, pela maioria dos trabalhadores, bem como a pouca participação nas atividades sindicais. Isto porque a maioria das direções dos sindicatos era composta por pessoas pouco comprometidas com sua categoria. Diante deste quadro, saiu proposta de oposições por categoria, como instrumento mais importante para operar mudanças na estrutura vertical em que atuava boa parte dos sindicatos capixabas. A proposta era transformar as entidades, torná-las independentes do Estado e instrumento de luta da classe trabalhadora. A partir desse seminário, iniciou-se o movimento de oposição metalúrgica na região da grande Vitória. Um grupo, que inicialmente contava com cerca de cinco operários, passou a se reunir quinzenalmente. Antes da criação da oposição sindical, o que havia de organização estava na metalúrgica Metalpen, onde um grupo de operários desenvolvia lutas específicas dentro da fábrica, com acúmulo de algumas conquistas importantes como, por exemplo, de uma espécie de CIPA na pauta de reivindicações, exigiam melhores salários, mais segurança e melhor assistência à categoria. As maiores expressões deste movimento eram os operários José Machado e José Evangelista, que, posteriormente, fez parte do grupo da oposição metalúrgica, vindo a compor a primeira chapa de confronto à diretoria nas eleições de 1982.

A OPOSIÇÃO E AS ELEIÇÕES DE 1982

Em 1982, as reuniões de coordenação da oposição metalúrgica começaram a ser semanais, com a participação ainda de oito operários das empresas Hitachi, Metalpen, Semec, Brashol, Carapina e CBF. A oposição prosseguiu os trabalhos e iniciou a discussão das eleições sindicais de 1982. Após alguns encontros e depois de avaliar a conjuntura, decidiu concorrer às eleições com chapa própria. A partir daí, intensificou sua atuação nas bases e a participação nas reuniões da coordenação aumentou para cerca de trinta operários. Vários encontros foram realizados nos locais de moradias dos operários, para discutir o programa e a composição da chapa. A Fase dava assessoria à coordenação da oposição e a grupos de bairro, desenvolvendo estudo sobre sindicalismo com os membros da chapa 3. Apesar do processo das eleições absorver bastante tempo, a oposição não paralisou suas atividades. Continuou denunciando as irregularidades no sindicato e nas empresas, desenvolvendo a luta por melhores condições de trabalho e salário, participando do processo de criação da CUT e desenvolvendo o trabalho de concientização da base, principalmente no local de moradia do operariado. A campanha de sindicalização cresceu, do mesmo modo que a participação na oposição na campanha salarial. O ano de 1982 foi difícil para a oposição, pois, além de ser um ano de recessão econômica, a Metalpen, que era a fábrica onde estavam os membros mais atuantes da oposição, faliu. Além disso, a Cofavi continuou sendo o maior colégio eleitoral, onde a oposição não conseguiu desenvolver um trabalho mais expressivo. Na eleições, a chapa da oposição obteve pouco mais de cem votos. A chapa vencedora tinha tinha grande penetração na Cofavi. No final daquele ano, surgiu a CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão), com 6.500 trabalhadores.

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